segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Se perguntarem por mim digam que voei :$


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As cortinas de algodão que tapavam o sol eram naquele dia de um tom de carvão, como nunca se tinha observado. Os raios brilhantes ficaram retraídos a um canto e o astro luminoso escondera o sorriso no seu interior ferido. Só os pequeninos olhos da bola de fogo observavam minuciosamente a paisagem que, abaixo de si, se desenhava… Grande rocha fora plantada ali pela mãe natureza, mesmo no centro de tão ressequido prado. Já nada ali viria a florescer, seria eternamente um pedaço do fim de um ciclo.
Mónica servira-se daquele penedo como apoio. Estava ali abrigada há horas, encolhida sobre si própria, tentava proteger-se do vento que lhe emaranhava os cabelos e da chuva violenta que lhe esculpia violentamente a face. Tapava os seus cansados ouvidos com as frágeis mãos que possuía, mas mesmo assim a palavra “dor” ecoava por todos os lados como se a quisesse perseguir, denegrindo-a até ao último palpitar do seu débil coração. A tempestade de tumultuosos actos sacudia a sua alma estonteantemente. Mónica tentava em vão resistir, custosamente, mas já nada a fazia prever que o futuro lhe desse um forte abraço carinhoso. Num tom vagaroso desprendeu-se de si própria, deixou-se expor a todo o tipo de facadas que o destino lhe queria cravar, sem complacência. O chão que a suportava era árido e rasgava-lhe a pele dos pés descalços, com que ela o tentava palmilhar. Deu dois passos e caiu esmorecida no chão, criando na sua face a ferida mais profunda que se possa imaginar. As gotas de sangue escorriam silenciosamente pelo rosto, manchando o vestido branco que ostentava, impregnado de poeira, que de certa forma ainda a protegia. Subitamente, começou a chorar, chorava pelas palavras, pelos actos, pelos gestos, pelos olhares, chorava por ela, por eles e por tudo… Simplesmente deixou que a cascata do coração falasse por si. Que a mágoa se despenhasse naquele pedaço de terra onde ela sobrevivia à apatia da sua vida. Recolheu todas as gastas forças que ainda armazenava dentro de si e ergueu-se, num tom (quase) de vitória. Contudo o seu estado de espírito jamais lhe permitiria esboçar o terno sorriso que anteriormente deliciava as pessoas que eram contagiadas por ele. Mónica já estava, de certa forma, hipnotizada por aquela ideia que a levara àquele local e nada a faria mudar, de
certo. Firmemente, caminhou até ao culminar daquela falésia. Naquele momento sentira medo do medo, medo dela própria, todavia sentia dentro de si um desejo tão forte que por mais que tentasse não conseguiria contrariá-lo. Olhou em todo o seu redor, contemplou a paisagem vezes sem conta, e de cada vez que a apreciava memorizava o que mais a impressionava. Por fim, fechou as suas duas janelinhas para o mundo. Abriu os braços, como se de um pássaro se tratasse. Estava pronta a voar para um sítio que lhe sucumbisse toda a dor que a invadia. De repente, ouve a chamarem pelo seu nome, fortemente. Vinha a correr em seu auxílio o ser que lhe fazia sorrir ainda um pouco, a cada dia. Corria sem cessar, o seu respirar era sôfrego. Ao olhar para ela lembrou-se de cada passo que caminharam juntam, de cada obstáculo que essa pessoa a ajudou a superar. E com uma voz sentida, vinda mesmo do seu coração disse-lhe que com ela tinha eternizado os rostos e as almas. Ao terminar de proferir estas palavras, voou. As suas asas abatidas já não abriram, coisa que ela já sabia de antemão. Porém decidiu pôr um ponto final na sua vida, naquele mísero lugar. Talvez as reticências estivessem à sua espera noutro local qualquer. No fundo da falésia via-se a sombra desfalecida no meio de uma poça da tristeza que ela suportara. Lá no cimo, chorava o olhar desesperante da sua companheira de aventuras e peripécias. O seu coração tinha sido apunhalado pela imensa angústia de ver ali estendida, no chão, a sombra colorida que lhe abrilhantava todos os dias da sua vida. Aquela aterradora visão estava a sufocá-la. Já nem sentia a dor imensa de ter as mãos fincadas naquele chão árido. Queria tornar-se louca ao ponto de também voar para lá e juntar-se àquela anjinha que dormia num tom eterno, ali…
Fechou os olhos também, calmamente aconchegou-se a si própria, iria dormir ali, fazendo companhia à sua amiga, mais uma vez, como em tantos dias passados, onde a palavra que ditava as regras era o sorriso. Agora aquele sono era ditado pela morte, que esbanjava lágrimas por toda a imensidão. Não sentiu mais nada a partir daquele momento, apenas uma dor pontiaguda no seu peito… E se futuramente questionassem os seus paradeiros certamente que a resposta seria: “Voámos”.´
*(hoje isto está contra mim e não deixa pôr imagens--')

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