sexta-feira, 24 de abril de 2009

Filamentos do Presente...

O mundo…
Aquele que todos os dias é torturado por infinitas pisadas dos seres humanos, cruéis, frívolos, materialistas e egocêntricos. Aquele que se desfaz, rasga-se em gastos pedaços, saturados de tanto egoísmo. Muitas vezes, encontramo-lo a chorar, silenciosamente, lá no seu fundo, triste e sonolento, absorvendo amargamente a realidade última da vida, coisas impensáveis, falências que nem sabe quais são, ternuras de coisas inexistentes e grandes dúvidas arrepiadas de não sei que futuro.
Afinal quem são estas meras silhuetas estilizadas que se atropelam no caminho que seguem em busca de coisa nenhuma? São órfãos de sentimentos, abandonados nas ruas das sensações, sem desviarem a atenção para a parte denegrida das suas faces, que tiritando de frio se abrigam nas esquinas da realidade, tendo que dormir nos degraus da tristeza em que comem o pão dado pela fantasia.
Um marcante sorriso ou olhar não passa de um simples gesto muscular, os sentimentos que transmitem esvairam-se do coração das pessoas. No futuro contemplaremos o céu sem lhe dar qualquer sentido, olharemos a vida como um tique-taquear de um relógio que nos foge das mãos, apressadamente, sem nos apercebermos dos momentos desperdiçados, sobretudo, com futilidades, vivendo uma vida única, sem partilharmos o alento que nos enaltece.
Quando acabará isto tudo? Estas ruas por onde arrastamos a nossa mísera pequenez, sim! porque já não passamos de desprezíveis marionetas com os fios entrelaçados a uma agenda de obrigações que insistimos em construir no lugar do coração. Quando não haverá mais degraus como estes, onde nos encolhemos do frio, que nos fere e que trespassa um punhado de facas sombrias pela nossa face? Qual o momento em que as mãos da vingança se arrependerão de invadir o aconchego que mantemos com os farrapos que ainda nos acalentam o coração?
Temos frio demais… Estamos exaustos do nosso abandono. Vai resgatar, ó silêncio, a serenidade que nos foi saqueada. Torna a preencher-nos, ó vento, com o coração quente que embalaste nos teus braços, formando uma face de gelo que persistes em derreter no fogo frio do fim.

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