sábado, 14 de março de 2009

Um paraíso arrebatador ...


Certo dia, decidi colocar-me ao caminho, tentar de alguma forma aspirar algo de extraordinário, algo que me pusesse de novo a sonhar! É que as palavras, que até ali me conduziram, persistiam em não sair, e, quando tal acontecia, tornava-me ténue, como se todo o meu redor amargasse ineficazmente. Até que, inexplicavelmente, todo o decurso que até ali tinha percorrido naquele trilho, simplesmente… se esfumava, consumindo o pequeno retalho de esperança que ainda me remanescia. O ambiente tornara-se inerte e cinzento, a alegria da mãe natureza era esbarrada por uma dolência indefinida, comedida de uma outra solidão obscura. Foi então que, um surpreso e estranho clarão, surgiu limiarmente do nada. Instantaneamente ficara perplexo, mas, depressa me esquivara, e arrojado de audácia e valentia entrara naquele varejo misterioso.
Ali, era retratada toda a autenticidade da natureza, onde nela um esplendoroso cromatismo preservava uma amálgama de sensações que eram envolvidas num ambiente verdejante e imaginável. Um paraíso arrematador que aprazava desde as mais vigorosas águas prateadas até à mais exígua planta avermelhada.
Então, envolvido naquela utopia, dispus o meu múltiplo olhar em direcção àquela, que era essencialmente delineada por uma infinidade de colinas que se faziam sobressair num meio magnífico de encantos naturais.
No entanto, de não muito longe, conseguia-se ao cimo de um pequeno monte visualizar uma casa, algo marchetada de ofuscação e melancolia, que parecia estar a renunciar o local que a abrangia. Mas porque razão? Estaria lá alguém a padecer? Guardaria aquela casa algo de secreto? … Um sem número de questões pairava no ar sem uma única resposta (aparentemente) clara. Apesar de tudo, era notório naquela casa ensombrada, uma pequena e sorrateira janelinha quadrada embora um pouco envelhecida.
A curiosidade tornava-se cada vez maior, e o desejo de espreitar por entre aquela janelinha, já não mais parou até chegar finalmente até lá. Olhei bem lá para dentro e ao fim de idealizar um homem sozinho num pequeno compartimento cerrado ousei com o meu punho direito bater à sua janela. Aquele toque depressa se fez soar pelo interior da casa, e rapidamente aquele reduto minúsculo pudera ser aberto ao ar livre.
Num impulso galguei os seis degraus que me separavam da velha porta e quando o ruído ensurdecedor de anos de aferrolho se fez ouvir, lancei o meu olhar petrificante sobre ele.
Fez-me parecer através do seu rosto, um homem consternado e sofredor que espelhava através dos seus olhos uma vida embebida de uma solidão ingrata e cruel que se sumia num cubículo quimérico como aquele. Sem qualquer troca de palavra, ele eleva as suas mãos, apelando à minha (imprevista) entrada.
Que sítio era aquele que me envolvia num arrepiante sentido mudo e que me rasgava os sentimentos? (Ainda) Não sabia, e povoado de incertezas, padecia o intrépido enigma.
Era uma casa indubitavelmente velha, repleta de pó acumulado por todos os cantos, uma casa onde nem um rasgo de ilusão poderia habitar. Usufruia de apenas três compartimentos, um deles era o seu quarto, o mesmo que naquele preciso momento me abarrotou de curiosidade e me fez caminhar até lá. Abalroados no chão, podiam ser vistas umas quantas canetas e lápis de carvão, antigos pergaminhos envoltos de uma imensa sujidade, um candeeiro de cor azulada e outros tantos livros devastados pelo tempo. Mas, era uma honesta e baixa secretária, que despertava o meu ser, completada por uma enorme montanha de livros imundos bem como outros textos inacabados. Surgiu-me a ideia de ir ler um dos quaisquer textos, acabando por me sentar naquela cadeira assolada. Correra ponta a ponta a cada palavra, perseguira todo o sentimento demais vagueado no papel e acima de tudo, pude vivenciar o seu verdadeiro significado. Ali vira que a vida para ele já não passava de um labirinto paupérrimo que se soltava e enredava infinitamente, pois, dessa já não obtinha mais proveito.
Dali extraí as minhas próprias conclusões, deduzindo portanto, o porquê da ofuscação do seu velho habitar e da sofrida expressão facial que se tinha propagado até seu interior.
Após aquele pávido momento, fora ter com ele e dissera-lhe: “ Jamais este sítio voltará a ser de novo um acordar estremecido e aterrado de memórias avassaladoras! Deixa para trás essa mera ilusão imaterial, e vem comigo reviver a ansiosa ternura que a natureza tem para oferecer.”
E dali saímos de sorriso preenchido no rosto…


*Miguel

1 comentário:

  1. Muito Bem sim senhor. Continuem. Podiam era por uma musica de fundo no blog mas o texto tá perfeito.
    Quem me dera saber escrever assim...

    P.S:Desculpa mónica mas decidi comentar o texto do Miguel :)

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